sábado, 21 de fevereiro de 2015

PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE GOIÂNIA


  •  Em 1932 a "Informação Goyana" publica a seguinte nota "O assunto mais palpitante  do momento em todo o Estado é o da mudança de sua capital, projetada pela interventor Pedro Ludovico, para outro local. No interior do estado reina um verdadeiro entusiasmo ela ideia, sendo que a  maioria é pela transferência da sede do governo. Na capital, entretanto, dois teros são a favor sendo a maioria contraria composta de grandes proprietários.
  • 4 de julho de 1932- Na cidade de Bonfim -atual Silvânia- Pedro Ludovico faz sua primeira declaração sobre a mudança da Capital.
  •  Em viagem ao Rio de Janeiro, em fins de outubro, o interventor Pedro Ludovico consegue o primeiro empréstimo com o governo federal para a concretização da mudança da capital.
  • No dia 20 de Dezembro de 1932  "Correio oficial" o decreto n 2737, nomeando uma comissão ara realizar os estudos necessários para a escolha de um local para se edificar a futura capital.
  • No dia 03 de Janeiro de 1933 a comissão anuncia os locais escolhidos para serem estudados.Quatro foram as localidades indicadas: Pires do Rio, Bonfim, Bata, Campinas.
  • A comissão escolhe campinas como local onde deveria se situar a nova capital considerando que a mesma se achava no local mais centralizado da parte mais povoada e desenvolvida do estado, bem como possuía ótimas terras e topografia apropriada para a edificação de uma nova Capital.
  • A partir de 1933 uma série de decretos institucionalizou a demarcação do sitio urbano, estabeleceu o plano piloto e normatizou o lançamento da pedra fundamental da cidade.
  • Goiânia se instalou a partir de dois processos básicos: doação e vendas de terras. Como consta nos registros de doações os fazendeiros abriram mão de mais de 70 alqueires de terras para  formar o perímetro urbano. As primeiras doações vieram das fazendas Crimeia, Botafogo, Catingueiro e Caveiros.
  • A lógica constante da edificação de Goiânia era a de planejar para evitar os problemas da antiga capital, fato compreensível, já que tudo na nova cidade deveria ser diferentes dos sítios coloniais. A topografia deveria ser plana, elemento  fundamental na conformação da paisagem urbana, uma farta rede de drenagem, com campos de cerrado e matas de galeria que logo ganharam os contornos de avenidas largas e calçadas construídas para carros que não existiam.
  • O primeiro plano piloto dedicou atenção especial ao traçados das ruas e avenidas que visavam aproveitar a topografia para evitar a velocidade do escoamento das águas. A outra novidade era o zoneamento. A cidade foi dividida em zonas: zona industrial, residencial, comercial, centro administrativo... 

FORMAÇÃO TERRITORIAL E A OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO GOIANO.

         O território goiano atual, foi constituído sobre os antigos territórios dos povos e tribos indígenas que aqui vivam antes da chegada dos colonizadores. Embora sabendo que eles se moviam constantemente, esse deslocamento ocorria dentro de um mesmo espaço de vivência. Sendo assim, é possível dizer que havia uma divisão territorial das tribos no território goiano, que acontecia, ou por comodidade, ou por inteligência mesmo, sem grandes conflitos entre as tribos. Essa divisão ocorria da seguinte forma: ao sul, da antiga capitania de Goiás, predominava os povos Kayapó e Goya, ao norte os Apinagé, os Xambioá, Xerentes, os Krahôs, os Akroás e os Xakriabás, próximo ao Rio Vermelho e nas margens do Araguaia viveram os Karajás, e ao longo do Rio Tocantins estabeleceram os povos Xavantes e os Canoeiros.

Com a colonização do Brasil essa configuração espacial começou a ser alterada, isto porque, desde o inicio da colonização o território goiano passou a ser percorrido por diversas expedições exploradoras que objetivavam mapear, conhecer e explorar o território brasileiro. Essas expedições ficaram conhecidas como Entradas, Descidas e Bandeiras. As Entradas eram expedições oficiais, organizadas e financiadas pela Coroa portuguesa, que obedeciam aos limites do tratado de Tordesilhas e visavam mapear e conhecer as possíveis potencialidades econômicas do interior do Brasil. As Bandeiras eram expedições organizadas por empresas privadas que se dedicavam tanto a busca de vários tipos de riquezas como: ouro e pedras preciosas, índios para serem vendidos como escravos, e outras, quanto ao ataque às sociedades indígenas resistentes ao avanço da colonização e a destruição de quilombos formados por negros fugidos do sistema escravista. Já as Descidas eram expedições organizadas pelos padres da companhia de Jesus, oriundos das missões jesuíticas da região norte, que tinham como objetivo a formação de novas reduções jesuíticas e a conversão dos indígenas. Por onde essas expedições passavam, elas provocavam mudanças na organização espacial, visto que muitas tribos eram conquistadas, dizimadas ou se viam obrigadas a fugir do seu local de origem para não interferir nos interesses dos colonizadores.

Apesar disso, é preciso salientar que embora essas expedições percorressem Goiás desde o inicio da colonização, modificando a organização espacial desse território, não houve uma ocupação efetiva do estado, por parte dos colonizadores, até 1722, quando encontraram ouro às margens do Rio Vermelho. Isto porque, como vimos anteriormente, os interesses dessas expedições estavam restritos a conhecer e a explorar o território sem uma preocupação de se fixar nele.


Com relação à organização espacial de Goiás no período colonial, é importante destacar que inicialmente a colonização do Brasil estava sujeita ao Tratado de Tordesilhas, ou seja, oficialmente Portugal só poderia colonizar as terras localizadas até 370 léguas a oeste da ilha de Cabo Verde. Caso o tratado fosse respeitado, a fronteira entre as terras de Portugal e Espanha dividiria as terras que hoje pertencem a Goiás para esses dois países. Como a Espanha não se preocupou em defender suas fronteiras e ocupar o território que lhe pertencia, com o passar do tempo novas terras foram sendo incorporadas ao território Brasileiro e os limites do Brasil Colônia ultrapassaram a demarcação estabelecida pelo tratado de Tordesilhas, sendo, legitimados, posteriormente, pela ocupação efetiva do território pela Coroa portuguesa. Assim, por volta de 1707 ele já abrangia uma grande parte do território nacional atual.

Durante muito tempo o território que hoje conhecemos como Goiás fazia parte da Capitania de São Paulo, sendo que ele só veio a se tornar uma Capitania independente em 1744, vinte e dois anos após o inicio da corrida do ouro em Goiás. Após a sua emancipação e a definição de seus limites, em 1748, a Capitania de Goiás passou a contar com uma superfície de cerca de um milhão de quilômetros quadrados. E, logo se viu no meio de uma “guerra” política com as capitanias vizinhas, tanto para defender quanto para ampliar o seu território. Isso porque, a posse de certas extensões de terras poderia significar tanto a saída da estagnação econômica pela qual as capitanias do interior do país atravessavam quanto uma maior integração com a região mais desenvolvida do país. Visto que quanto mais próximas estivessem as Capitanias do centro econômico do país, que na época se localizava no Rio Janeiro, maior seria a sua integração econômica.

Foram mais de 250 anos de disputas territoriais entres os estados que fazem fronteira com Goiás e até mesmo entre as duas grandes comarcas do estado, a do sul e a do norte, que “brigavam” entre si para definir se emancipavam ou não a parte norte do estado (o que acabou acontecendo em 1988 com a criação do estado de Tocantins), para que fossem definidos os limites do estado tal qual conhecemos hoje. Só para o estado de Minas Gerais Goiás perdeu mais de 250 mil km², que correspondem às terras do triângulo mineiro e a outros ajustes menores, para Mato Grosso/Mato Grosso do Sul o estado de Goiás perdeu cerca de 160 mil km². Dessa forma, dos um milhão de km²  da antiga Capitania de Goiás, sobraram, após a separação de Tocantins, exatos 340.117,7 quilômetros quadrados para Goiás e 277.292,8 quilômetros quadrados para Tocantins, o que está de bom tamanho para ambos os lados, por que os dois territórios mais compactos geograficamente são mais  fáceis de administrar.   
                    A descoberta do ouro em Goiás, em 1722, marcou o inicio da ocupação efetiva do território Goiano, acelerando as transformações espaciais que já ocorriam em Goiás desde o inicio da colonização. Nesse período todo garimpo, em princípio, transformava-se em povoado, cuja duração no tempo dependia exclusivamente da fartura com que a terra respondia às esperanças dos garimpeiros. Os lugarejos iam surgindo, mas a maioria não passava de simples aglomerações de palhoças sem nenhum conforto, em que o nome urbano era utilizado de forma exagerada, dada a falta de estrutura básica para que aquela aglomeração pudesse vir a ser de fato uma cidade. Muitos desses lugarejos não conseguiram atravessar o tempo e chegar até os dias de hoje com o status de cidade. Outros conseguiam se desenvolver e se perpetuar como cidades coloniais. Foi assim que nasceram os dois mais ricos patrimônios arquitetônicos e urbanos de Goiás: Villa Boa, cidade de Goiás, que na época era a capital da capitania de Goiás, e Meya Ponte, Pirenópolis.
 A aparência das cidades coloniais eram praticamente as mesmas: uma grande praça no centro, com uma igreja matriz ocupando lugar de destaque, para onde convergiam as ruas geralmente tortuosas decorrentes do relevo acidentado predominante nas regiões auríferas. Geralmente, ao redor da praça central, eram construídos, além da igreja matriz, os edifícios públicos e as casas burguesas, sobretudo em formas de sobrado. As casas de classe, digamos média, ficavam mais distantes, eram baixas, normalmente germinadas, cobertas de telhas comuns de argila, pintadas com cal, com janelas enfeitadas com folhas de malacacheta. Mais afastados do centro da cidade, o hábitat deixava de ser arquitetural para transformar-se em miseráveis habitações de taipa e de terra batida cobertas com folhas de palmeiras ou com sapé, que abrigavam as classes pobres ou escravos alforriados.

A corrida do ouro no estado foi extremamente rápida em apenas cem anos, de 1722-1822, Goiás passou de novo El-dourado, que recebia migrantes, de Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Maranhão e até do norte do Brasil, atraídos pela fama do outro, para um estado que via a sua população migrar para outras áreas em busca de novas áreas de extração do ouro. Para se ter uma idéia, nos períodos de grande extração do ouro a população cresceu de 14.000 habitantes para 59.287 em 57 anos, de 1736 a 1783, já em 1804, quando já estava instaurada a crise no setor mineratório goiano, a população era de 50.447 pessoas, 10 mil a menos do que na década anterior.

Com a decadência do ouro, a atividade agropastoril, que até então era desenvolvida em Goiás apenas para abastecer a mina de ouro em viveres de primeira necessidade (carne, arroz, feijão, milho, mandioca, farinha), passou a ser a principal atividade econômica do território goiano e o principal fator de povoamento do estado. Nos mais de cem anos de predomínio da agropecuária tradicional no estado, o núcleo da sociedade goiana era as fazendas, que tinham como principal característica a autossuficiência, ou seja, produziam tudo àquilo que necessitavam para o seu autoconsumo e só comercializavam o excedente. O principal produto comercializado por Goiás nesse período era o gado. Isto ocorria devido à grande quantidade de pastos disponíveis para a criação e a facilidade no transporte do produto em comparação a outros gêneros agrícolas, já que os animais eram auto-transportáveis. Além do gado também eram produzidos em Goiás arroz, feijão farinha, rapadura, algodão para fiar, cachaça, mandioca, queijo, e sabão.

Estima-se que cerca de dois terços dos municípios do estado tiveram como fator de urbanização a atividade agropastoril e se ela não foi o fator inicial a dar origem a esta ou aquela cidade, sem duvidas foi o que, em seguida, propiciou sustentação ao seu crescimento e à sua economia. Foi a atividade agropecuária a responsável por favorecer o movimento de pessoas pelo território goiano, a fomentar a migração e integrar  áreas do estado que até então não tinham nenhuma relevância para o cenário econômico estadual  ou nacional. Além disso, o boi e a roça, símbolos eternos da vida agropastoril, estão presentes na história familiar, e muitas vezes até mesmo no cotidiano, da maioria dos goianos.

Dentre os municípios que tiveram como ponto inicial a atividade agropastoril temos Rio Verde, Jataí, Mineiros Caiapônia, Serranópolis, Montividiu, Cachoeira Alta, Caçu, Santa Helena de Goiás, Quirópolis entre outras, que nasceram de sedes de fazendas, e Anápolis, Brazabrantes, Santa Rosa de Goiás, Damolândia, Taquaral de Goiás, Itaguaru, Carmo do Rio Verde, Inhumas, Santa Bárbara, Goiânira, que nasceram de patrimônios.
Nesse período que predominou a atividade agropastoril tradicional, século XIX até as primeiras décadas do século XX, assim como no período de extração de ouro, a prolongada ausência de fatores de povoamento mais estáveis, capazes de atrair e fixar populações, como por exemplo, a colonização organizada, ou a implantação de pólos industriais, fez com que a ocupação humana do espaço goiano fosse irregular, pontual  e descontínua.  Para se ter uma idéia, em 1940, quase dois séculos depois da criação da então Capitania de Goiás, com os seus exatos 623.217,4 quilômetros quadrados, o estado era pontilhados por apenas 52 cidades e 88 vilas e a sua população chegava a apenas 800 mil habitantes, sendo que destes apenas 18% viviam nas cidades, os outros 82% restante viviam na zona rural.

 As diversas tentativas de colonização oficial (vinda de imigrantes estrangeiros para o estado) fracassaram principalmente devido a dois fatores. Os grupos de fazendeiros dominantes eram resistentes a vinda de imigrantes para Goiás, pois pensavam que a sua vinda provocaria profundas mudanças sociais comprometendo a organização espacial vigente, caracterizada, sobretudo, pela elevada concentração de terras nas mãos de alguns poucos proprietários. Além disso, a permanência dos grupos de estrangeiros no estado encontrou barreiras naturais, visto que  eles não se adaptaram ao clima de Goiás e com o passar do tempo abonavam o campo para se instalar nas cidades, ou para ir as grandes cidades do sul do país, onde as características naturais, principalmente o clima, se assemelhavam com as de seus países. Raras são as colônias que se perduraram por um tempo, como a dos Alemães em Uvá no município de Goiás e a dos italianos em Nova Veneza, e mesmo assim com o passar do tempo os seus remanescentes se desenraizaram de suas culturas e tradições de origem e tornaram-se muito mais brasileiros morando nas cidades do que colonos propriamente ditos.
Se a colonização oficial foi um fracasso completo, a colonização espontânea foi o que povoou o estado de Goiás. Gradativamente os fluxos migratórios vindos, principalmente, de Minas Gerais e do Maranhão povoaram o estado. Mostrando-se muito mais eficiente do que a colonização oficial visto que o homem brasileiro era mais adaptado às condições climáticas locais sendo capaz de se fixar na terra. Ainda assim, esse povoamento encontrou alguns obstáculos, principalmente no que diz respeito a uma rede eficiente de comunicação e transporte que integrasse as regiões do território goiano e o estado á outras regiões.

Essa situação começou a mudar no inicio do século XX com a construção de rodovias de integração nacional e regional- principalmente a BR-153, BR-020, BR-060, GO-118, GO-164- e com a chegada da ferrovia no estado de Goiás, que por onde passavam provocavam mudanças na estrutura espacial do lugar e foram às responsáveis por tirar do isolamento e da inércia diversas regiões do estado, pois mais do que simples caminhos eram uma rede de comunicação, instrumento de intercâmbio econômico e cultural, fruto da mobilidade dos homens e da rede de relações que se estabeleceu e desenvolveu- no espaço.  Muitos foram às cidades que nasceram sobre influência desses caminhos terrestres, como por exemplo Professor Jamil e Goianapolis, que tiveram sua origem ligadas a construção da BR-153, e Senador Canedo, que surgiu a partir da chegada da ferrovia no estado de Goiás. Outras, como Jaraguá, Porangatu, Anápolis, teriam parado no tempo se não fosse a sua passagem.

              Diante disso, podemos dizer que os três principais fatores de povoamento do estado de Goiás até os primeiros anos do século XX foram à corrida do ouro, no século XVIII, a agropecuária tradicional, no século XIX e a construção de rodovias de integração e da ferrovia, no inicio do século XX. Além desses fatores,  houve outras motivações que fizeram com que grupos de migrantes se fixassem no território goiano. Mas, em sua maioria ou estavam ligados as principais atividades econômica da época, ou tiveram uma capacidade menor de contribuir com o povoamento do estado. Dentre esses outros fatores de povoamento, destacam-se os aldeamentos indígenas, as missões religiosas, os registros e presídios, os locais de extrativismo vegetal e o garimpo de pedras preciosas.

REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS 

ARRAIS, Tadeu Alencar. A produção do Território Goiano:economia, urbanização, metropolização. Goiânia:UFG, 2011.

GOMES, HORIESTES. Geografia; Goiás-Tocantins. Goiânia:UFG, 2004.

POLONIAL, Juscelino. Terra do Anhanguera: História de Goiás. Goiânia: Kelps, 1997.